quarta-feira, 7 de abril de 2010

Noruega

Contamos pequenas histórias. Dizemos banalidades e falamos, falamos e falamos, mesmo sem ter nada para dizer. 


À nossa volta há uma festa em norueguês. Risos e vozes que são nada. 


Lá fora a luz desfaz-se lentamente sem nunca chegar a noite. Abrimos as portas e saímos, vamos pelo relvado, andando na carícia do eterno anoitecer. 


Uma borboleta vem e pousa-me no ombro, moribunda, distraída. Ofereço-lhe um dedo e ela sobe. Ergo-a aos nossos olhos. 


Sentamo-nos na relva fria a olhar tão pequeno milagre que se deixa ficar assim sem medo. As nossas barbas, malfeitas, roçam-se numa carícia e rímo-nos. E voltamos a fazê-la. Depois o nosso olhar desvia-se das asas e fixa-se um no outro.Estamos tão juntos que nos aquecemos, respiramos o mesmo ar, sentimos a mesma pele arrepiada. O sopro do fjord, lá ao fundo do relvado, salpicado de ilhas.


No Japão, algum tempo depois, rompe uma tempestade, mas aqui a borboleta apenas bate as asas e voa. Seguimo-la com o peito pela vastidão aberta destas águas que rasgam montanhas e surpreendemo-nos com a grandiloquência pirosa do amor.


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