sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

13 dias do ano

Fiz as contas.
Não foram muitas as vezes que te vi.
Em que estivemos juntos.
E que importa isso?
Não sei.
Mas sinto a tua falta.

Olhava para o tecto, como tantas vezes faço quando, ainda antes de dormir ou levantar, preciso de me pôr em ordem, e pus-me a contar. Foram 13.

Parece de alguma forma um número simbólico, mas todos os números pequenos compensam a magreza com uma barriga cheia de significados. Insignificantes.

Não é aqui na cama que sinto a tua falta. Pelo menos não quando me deito. Uma vez dormimos juntos e, como certamente te lembrarás, descobrimos que os nossos sonos não se uniam como nós. Os corpos sim. Decididamente feitos um para o outro, a encaixarem como Lego. Mas não no sono. Nem nos sonhos, provavelmente. Que raio foste tu fazer para a Índia só Deus sabe, e a mim não me interessa.

Tal como não me interessou saber quem eras. Porque lias Camus. Porque deixavas que as tuas roupas se empilhassem nas cadeiras sem se distinguir já o sujo do limpo. Porque enfileiravas na beira da banheira um exército de embalagens de litro de gel de banho. Não. Nunca quis saber quem era essa pessoa.

Talvez porque, logo naquela primeira vez, assim que nos despimos e os nossos corpos se encontraram, eu tenha ficado a saber tudo o que importava saber sobre ti. A tua generosidade. E a bondade. Estava na tua pele, nos teus gestos, e era isso que tornava difícil largar-te o corpo, largar-te a boca, parar os beijos. Eu, tu. Nós. Atados um ao outro, a prolongar aquilo, a troca de fôlegos, a mistura das peles. Até a tensa contenção se quebrar e termos mesmo de nos derramar por cima um do outro. Até irmos rir para o duche e atirar água para os corpos. Gargarejar. E dar bom uso àqueles litros de gel de banho que o outro desconhecido tu comprava em mercearias de esquina, lojas de desconto. Exotic Sunshine. Eternal Spring. Brisa del Mar. Manzanas Verdes. Nomes mais teus do que o teu, de que nem me lembraria não fosse tê-lo escrito num pedacinho de papel, por cima do teu numero de telefone.

Ainda te tentei ligar depois daquela última vez em que me disseste que ias viver para a Índia. Bizarro. Ninguém se muda para a Índia. E no entanto, esse tipo que eras e que nunca me interessou conhecer, foi para lá de certeza porque nunca mais atendeste o telefone.
Azar o meu.

1 comentário:

Anónimo disse...

Azar o teu, sorte a minha, que pude deliciar me com este conto.